Sobre Aristóteles, Deus e a teologia (por Daniel Placido)
Introdução Aristóteles muitas vezes tem sido apresentado como o paradigma do filósofo racionalista, quando não um materialista e ateu, alguém alheio à religiosidade, em contraste com seu mestre Platão, um filósofo claramente de inclinação espiritual e reivindicado pelos místicos de todos os tempos. Por exemplo, mais recentemente, Foucault (2006) na sua A Hermenêutica do Sujeito colocou Aristóteles como uma exceção dentro do quadro da Antiguidade, já que, ao contrário de pitagóricos, (neo)platônicos, cínicos, estóicos e outros, não teria tido uma preocupação explícita com a espiritualidade, ou seja, com o autoconhecimento e com o cuidado de si. Todavia, acreditando-se na autenticidade do “testamento” de Aristóteles citado por Diógenes Láercio, segundo Enrico Berti (2022), o Estagirita, na realidade, praticava os rituais religiosos dos helênicos da época. É, assim, verossímil pensar que Aristóteles era um pagão politeísta que, se recusava os exageros da r