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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Hino de Proclo e Hino de G. Pléthon

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  Selecionei nesta postagem dois hinos de caráter filosófico-espiritual. O primeiro é um hino do filósofo neoplatônico Proclo (século V EC), o qual faz parte de um conjunto de sete hinos, dedicados à deuses importantes no imaginário neoplatônico e nos quais se vê uma ressonância da teurgia. Já o outro é um hino do filósofo bizantino Gemisthos Pléthon (século XV), também de índole platônica, que faria parte de hinos e liturgias de cunho pagão presentes em sua obra “Tratado das Leis”. Curiosamente, a obra de Plethon foi influenciada por Proclo, apesar dele ter mascarado essa influência, por razões que não são muito claras (Daniel Placido).        “Salve, mãe diva, tão nomeada, de boa prole; salve, Hécate porteira, tesa; e também tu salve, Iano avito, imortal; salve, sumo Zeus. Gerai um trajeto fulgente à minha existência, repleto de bens, e bani os funestos morbos dos membros meus; e a alma, desvairada em terra, erguei, purgada com tais ritos espirituais. Sim, rogo, dai

Oriente-Luz em Sohravardî e J. Boehme (por Daniel Placido)

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  Pelo menos desde o “Hino da Peróla”, atribuído ao gnóstico Bardesanes, passando pelo mito medieval do Preste João, o Oriente tem sido associado simbolicamente à busca espiritual. Essa ideia, sob formas distintas, aparece em dois teósofos: Sohravardî e Jacob Boehme. Sohravardî, segundo H. Corbin (En Islam Iranien: aspects spirituels et philosophiques, vol. II, Sohrawardi et les platoniciens de Perse. Paris: Gallimard, 1991, p. 38) chama o mundo angélico (Jabarût) de “Oriente maior”, e o mundo da alma (Malakût), de “Oriente menor”. E entre eles está situado o “Oriente Médio”: o mundo imaginal. E temos ainda o mundo físico e dos elementos, considerado o “Ocidente”, o lugar de exílio -- a escuridão da matéria -- para o qual as almas descem. Sohravardî sustenta que os “peregrinos do espírito” podem ter acesso direto a este mundo imaginal, objetivo e real, encontrado pelos profetas e amigos de Deus, onde aparecem letras, sons, formas e figuras que tanto podem ser uma réplica daquilo do q

Agostinho e Plotino: cristianismo e neoplatonismo (por Daniel Placido)

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  O filósofo cristão Santo Agostinho (354-430 EC) recebeu grande influência do  platonismo ou neoplatonismo, a ponto de dizer nas Confissões que ninguém aproximou- se tanto dos cristãos quanto os platônicos, porquanto estes teriam vislumbrado a presença  do Logos-Verbo no universo, ainda que não encarnado -- conforme o prólogo de São  João -- na figura divino-humana de Jesus Cristo. Agostinho, gravemente enfermo em seus derradeiros dias, segundo Possídio,  “consolava-se com a sentença de um sábio, que dizia: ‘Não é sábio quem pensa que é grande coisa caírem madeiramento e pedras, e morrerem os mortais'" [1]. Esse sábio era Plotino (c. 205-270 EC), e a passagem citada está nas Enéadas I, 4, 7. Assim, o mais ilustre e influente Pai da Igreja, próximo à morte, rendeu um merecido tributo à sabedoria platônica e "pagã" que havia estudado na juventude. É ainda sob inspiração plotínica que prova velmente Agostinho elaborou sua ética.   Plotino entendia o "mal"