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Mostrando postagens de novembro, 2022

Organização e Cronologia dos Diálogos de Platão (por Daniel Placido)

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Conforme E. A. Dal Maschio (In: Platão: a verdade está em outro lugar. São Paulo: Editora Salvat, 2015, p. 39), o filósofo Platão (427-347 AEC) escreveu cerca de 36 textos, à luz da compilação feita por Trasilo no século I EC. Dessas obras, especialmente 6 são objeto de dúvida (Alcibíades, Íon, Menéxeno, Hípias Maior, Epinómis e Cartas), enquanto outras 6 tendem a ser consideradas inautênticas (Alcibíades II, Hiparco, Amantes Rivais, Téages, Clitofonte e Minos). Sobre a autenticidade dos diálogos platônicos, E. Bini (In: Platão: Diálogos: Parmênides, Polítivo, Filebo e Lísis, vol. IV. SP: Edipro, 2015, pp. 15-28) considera a seguinte divisão, por sua vez: a-) Obras de autenticidade indiscutível: Fedro, Protágoras, O Banquete, Górgias, A República, Timeu, Teeteto, Fédon, As Leis, Apologia; b-) Obras cuja autenticidade não é unânime: Sofista, Parmênides, Crátilo, Filebo, Críton, Crítias, Eutífron, Político, Cármides, Laques, Lísis, Eutidemo, Mênon, Hípias Menor, Ion, Menexeno;

Notas sobre Gnosticismo (Daniel Placido)

1- Gnosticismo e Nova Era? G. Filoramo considera que a Nova Era corresponde a uma "visão de mundo gnóstica".  Apesar dele reconhecer que essa suposta nova gnose tem diferenças com a do passado, continuo achando problemático associar o gnosticismo a algo tão diferente dele. Apesar da liberdade espiritual presente tanto no gnosticismo antigo quanto na Nova Era, esta é holística, evolucionista e otimista, elementos que evidentemente não se coadunam com o pessimismo gnóstico sobre o mundo e a condição humana. Faz mais sentido comparar o gnosticismo com o budismo, para o qual tudo neste mundo é impermanente, tal como no gnosticismo o mundo, território do Demiurgo ignaro, é um plano instável e imperfeito do qual devemos nos evadir, exigindo, segundo Welburn, uma grande lucidez.   Não deve ser acaso, assim, que na antiguidade o profeta Mani tentou criar uma síntese entre budismo, gnosticismo e zoroastrismo: o maniqueísmo. Contudo, para os maniqueus o mundo era uma criação benigna do

Ironia e Refutação no "Críton" (por Daniel Placido)

  Para começar este comentário sobre o método refutativo e em seguida sobre a ironia de Sócrates no diálogo platônico   Críton , vamos fazer uso de ponderações extraídas de V. Goldschmidt e de sua análise precisa da estrutura de diversos diálogos de Platão.  Goldschmidt pondera [1] que em diversos diálogos platônicos (incluindo o   Críton ), há uma progressão natural do pensamento em quatro estádios, a qual corresponde justamente a uma “ascensão” (que implica correlativamente um descenso, do inteligível para a Caverna, ou seja, o mundo sensível) do particular para o universal, e das coisas sensíveis e das opiniões conflitantes para o domínio do que é universal e essencial: a) imagem; b) definição; c) essência; e d) ciência. E aproveitando essa exposição sobre a estrutura quatripartite e mais geral dos textos platônicos, também destacaremos e analisaremos os momentos próprios e específicos da refutação e da ironia socráticas. Não entraremos aqui em considerações de cunho mais histórico,