Organização e Cronologia dos Diálogos de Platão (por Daniel Placido)
Conforme E. A. Dal Maschio (In: Platão: a verdade está em outro lugar. São Paulo: Editora Salvat, 2015, p. 39), o filósofo Platão (427-347 AEC) escreveu cerca de 36 textos, à luz da compilação feita por Trasilo no século I EC. Dessas obras, especialmente 6 são objeto de dúvida (Alcibíades, Íon, Menéxeno, Hípias Maior, Epinómis e Cartas), enquanto outras 6 tendem a ser consideradas inautênticas (Alcibíades II, Hiparco, Amantes Rivais, Téages, Clitofonte e Minos).
Sobre a autenticidade dos diálogos platônicos, E. Bini (In: Platão: Diálogos: Parmênides, Polítivo, Filebo e Lísis, vol. IV. SP: Edipro, 2015, pp. 15-28) considera a seguinte divisão, por sua vez:
a-) Obras de autenticidade indiscutível: Fedro, Protágoras, O Banquete, Górgias, A República, Timeu, Teeteto, Fédon, As Leis, Apologia;
b-) Obras cuja autenticidade não é unânime: Sofista, Parmênides, Crátilo, Filebo, Críton, Crítias, Eutífron, Político, Cármides, Laques, Lísis, Eutidemo, Mênon, Hípias Menor, Ion, Menexeno;
c-) Obras apócrifas: Alcibíades, Hípias Maior, Clitofon;
d-) Obras de discípulos diretos ou indiretos: Alcibíades II, Hiparco, Amantes Rivais, Teages, Minos, Epinomis, Definições, Da Justiça, Da Virtude, Demódoco, Sísifo, Hálcion, Erixias, Axíoco.
Além da questão da autenticidade, sempre foi objeto de controvérsia a cronologia e temática dessas obras platônicas, ainda que seja consensual a compreensão de que Platão foi amadurecendo seu pensamento filosófico ao longo dos anos, afastando-se de Sócrates no sentido de um pensamento próprio.
De acordo com Christophe Rogue (In: Compreender Platão. Petrópolis: Vozes, 2005, pp. 16-17), alguns diálogos de Platão podem ser organizados cronologicamente desta forma:
a) Primeiros diálogos [ditos “socráticos”]:
- Apologia de Sócrates (processo de Sócrates/mais um monólogo que um diálogo)
- Críton (submissão às leis)
- Hípias menor (a mentira)
- Laques (a coragem)
- Cármides (a sabedoria)
- Lísis (a amizade)
- Hípias maior (o belo)
- Eutífron (a piedade)
- Alcibíades (a conduta política)
- Protágoras (a virtude e seu ensino)
Foram escritos nos anos seguintes à morte de Sócrates, e revelam uma forte influência socrática, tanto na forma quanto no conteúdo.
b) Diálogos “intermediários”:
- Górgias (retórica)
- Mênon (a virtude)
- Eutidemo (erística)
- Crátilo (a linguagem)
- Menexenes (encômio de Atenas)
- Ion (a rapsódia)
Escritos após 388 AEC, são mais elaborados do que os precedentes; revelam uma maior independência do próprio Platão frente ao legado socrático; aparição do recurso ao mito e da influência órfico-pitagórica, etc.
c) Grandes diálogos:
- Fédon (a imortalidade da alma)
- Banquete (o amor)
- República (a cidade ideal)
- Fedro (o amor, a retórica)
Bem mais sistematizados, marcados pelo dualismo metafísico e pela temática platônica “clássica” (reminiscência, evasão, metempsicose e outros).
d) Diálogos tardios:
- Teeteto (a ciência)
- Parmênides (o Um)
- Sofista (o não-ser)
- Político (o governante ideal)
- Filebo (o prazer)
- Timeu (cosmologia)
- Crítias (Atenas arcaica e a Atlântida) [inacabado]
- Leis (maior realismo quanto à questão cidade) [idem]
Expressam uma espécie de “virada” no derradeiro pensamento platônico, centrado agora na alteridade e no problema do não-ser; a forma dialógica, e mesmo o personagem Sócrates, podem esmaecer.
Comentários
Postar um comentário