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Mostrando postagens de abril, 2023

Porfírio e o pensamento oriental (por Daniel Placido)

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 Porfírio (c. 234-c. 304/309 EC) não só relatou o interesse de Plotino pela filosofia indiana e persa, como demostrou conhecer diretamente o assunto. Por exemplo, nesta passagem da obra Sobre a abstinência, IV, 17: A estrutura social dos indianos se compõe de várias classes, e há entre eles uma casta, a dos teósofos aos quais os gregos optaram por chamar de gimnosofistas. Por sua vez, estes se dividem em duas seitas.  Uma é constituída pelos brâmanes e, a outra, dos samaneos [budistas?]. Os brâmanes recebem de geração em geração sua específica teosofia, como uma espécie de sacerdócio; os samaneos são eleitos e o número deles que se consagra à teosofia se seleciona entre voluntários. Deste modo são os fatos que lhes concernem, tal como exposto pelo babilônio Bardesanes, que existiu na época de nossos pais, e se encontrou entre os indianos que foram enviados com Dandamis ao imperador. Todos os brâmanes pertencem a uma única casta, porque todos provem de um só pai e uma só mãe; os samaneo

Três razões para ler Schopenhauer (por Daniel Placido)

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Apesar de nunca ter lido a obra de Schopenhauer de forma sistemática e cuidadosa, é um autor pelo qual realmente tenho estima e ainda desejo aprofundar minhas leituras de seus escritos, por ora esporádicas e caóticas. Por quê? Tenho três razões para isso. A primeira delas tem a ver com seu interesse sincero pela filosofia oriental, particularmente o budismo e o Vedanta. Independente da precisão menor ou maior de sua interpretação dessas tradições da Índia, considero relevante o fato de um filósofo ocidental de grosso calibre como ele ter reconhecido a grandeza do pensamento oriental. Schopenhauer disse: “...para mim, o fundamento da moral repousa em última instância sobre aquela verdade que está expressa no Veda e Vedanta pela fórmula mística tat twam asi (isto és tu), que é afirmada com referência a todo ser vivo, seja homem ou animal, denominando-se então o Mahavakya, o grande verbo." (Parerga e Paralipomena) Decerto isso não era uma novidade exatamente entre os intelectuais eur

Um adeus a Ralf Rickli (1957-2023)

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"Quando menino esteve no céu...era mesmo Lutero"(A Trakl, Else Lasker-Schuller) Ainda abalado pela perda do amigo Ralf Rickli, um verdadeiro e raro mentor pelos caminhos labirínticos da liberdade. Algumas breves palavras nesta despedida, sem dúvida aquém do que uma figura tão extraordinária mereceria. Filósofo, poeta, ativista, tradutor, humorista, provocador, tantas qualidades em uma só pessoa, tanta humanidade em um só ser. Conhecê-lo inicialmente foi algo curioso: ele evocava uma outra era, Maio de 68 parecia que estava ali, na minha frente, mais vivo do que nunca. Tratar-se-ia de um Dom Quixote  lutando contra os moinhos de vento, a tentar fazer a roda da história girar ao contrário? Ou um extemporâneo em uma época hostil? Não, absolutamente. Conforme o conhecia, pude entender que não apenas sonhou com ou ficou preso a um tempo remoto, pois ele  viveu sua verdade existencial em cada palavra, gesto ou pegada, na mais radical coerência. Sua filosofia era sua vida, sua vida