Especula-se que Gemistos Plethon tenha tido por
mestre um judeu chamado Eliseu, o qual seria, supostamente, versado na tradição
da filosofia iluminacionista de Sohravardî. Realidade histórica ou não essa relação, as semelhanças entre
Sohravardî-Plethon -- apesar de separados no tempo e no espaço -- são supreendentes. Possivelmente elas devem-se a uma matriz
platônico-zoroastriana mais ou menos comum, que, inclusive, fez com que ambos os filósofos se
considerassem continuadores de uma linhagem ancestral de sábios, a qual
incluiria figuras como Zoroastro, Pitágoras, Platão, entre muitos outros.
Quando encaramos a forma como eles interpretaram as ideias platônicas, mais
convergências aparecem.
Sohravardî (Kitab hikmat al-ishraq e Al-Mutarahdt) concebe a
realidade como um emanação de substâncias angélicas, as quais derivam de um
primeiro princípio, chamado de Luz das Luzes. Dele emana o Primeiro Intelecto
ou Arcanjo (Bahman), e daí uma cadeia de luzes inteligíveis ou anjos que
Sohravardî divide em uma ordem vertical (logitudinal) e uma ordem horizontal
(latitudinal). A ordem horizontal (aspecto masculino da primeira) não tem
hierarquia, e Sohravardî a identifica, a princípio, com o mundo platônico das
ideias. Contudo, como H. Corbin assinala, não se trata de uma simples retomada
do platonismo, pois o anjo aqui não é um mero arquétipo de algo físico, pois
cada espécie corporal é uma projeção ou obra teúrgica dele, realizada na
escuridão morta do barzakh; por isso Sohravardî os identifica com os Amesha
Spentas do zoroastrismo: Ordîbehesht (fogo); Khordâd (água); Mordâd (plantas);
Shahrîvâr (metais); e Isfandarmoz (Terra).Por sua vez, Plethon (Nomoi, III,
15 e De Differentiis) concebe que o mundo, incriado e eterno, é regido
por um Deus supremo e bom, ei-lo: Zeus (que pode ser comparado ao Uno). Dele emanam as formas ou ideias platônicas
que Plethon identifica com os demais deuses olímpicos, através de uma síntese
curiosa de aristotelismo e platonismo com paganismo. A primeira é a forma pura
em Ato e origem das demais: Poseidon, princípio masculino. Em seguida, gerada
por Zeus à imagem de Poseidon, surge Hera, a qual representa a Potência e o
princípio feminino. Em seguida, temos: Apolo, a Identidade; Ártemis, a
Diversidade; Hefesto, o Repouso; e Dinioso-Atena o Movimento. E os demais, são deuses
gerados a partir destas Ideias-deuses, relacionados com outros níveis em que o
mundo é dividido de forma hierárquica.
Em Sohravardî as Ideias platônicas são
relacionadas com a angeologia zoroastriana enquanto em Plethon com os deuses
olímpicos, eis uma curiosa “divinização” das Ideias, unindo filosofia e
teologia, e não muito distante, possivelmente, do que já fora feito antes pelos
neoplatônicos antigos.
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