Gemistos Plethon, Sohravardî: Ideias, anjos e deuses (por Daniel Placido)

  

Especula-se que Gemistos Plethon tenha tido por mestre um judeu chamado Eliseu, o qual seria, supostamente, versado na tradição da filosofia iluminacionista de Sohravardî.  Realidade histórica ou não essa relação, as semelhanças entre Sohravardî-Plethon -- apesar de separados no tempo e no espaço -- são supreendentes. Possivelmente elas devem-se a uma matriz platônico-zoroastriana mais ou menos comum, que, inclusive, fez com que ambos os filósofos se considerassem continuadores de uma linhagem ancestral de sábios, a qual incluiria figuras como Zoroastro, Pitágoras, Platão, entre muitos outros. Quando encaramos a forma como eles interpretaram as ideias platônicas, mais convergências aparecem.


Sohravardî (Kitab hikmat al-ishraq Al-Mutarahdt) concebe a realidade como um emanação de substâncias angélicas, as quais derivam de um primeiro princípio, chamado de Luz das Luzes. Dele emana o Primeiro Intelecto ou Arcanjo (Bahman), e daí uma cadeia de luzes inteligíveis ou anjos que Sohravardî divide em uma ordem vertical (logitudinal) e uma ordem horizontal (latitudinal). A ordem horizontal (aspecto masculino da primeira) não tem hierarquia, e Sohravardî a identifica, a princípio, com o mundo platônico das ideias. Contudo, como H. Corbin assinala, não se trata de uma simples retomada do platonismo, pois o anjo aqui não é um mero arquétipo de algo físico, pois cada espécie corporal é uma projeção ou obra teúrgica dele, realizada na escuridão morta do barzakh; por isso Sohravardî os identifica com os Amesha Spentas do zoroastrismo: Ordîbehesht (fogo); Khordâd (água); Mordâd (plantas); Shahrîvâr (metais); e Isfandarmoz (Terra).




Por sua vez, Plethon (Nomoi, III, 15 e De Differentiis) concebe que o mundo, incriado e eterno, é regido por um Deus supremo e bom, ei-lo: Zeus (que pode ser comparado ao Uno).  Dele emanam as formas ou ideias platônicas que Plethon identifica com os demais deuses olímpicos, através de uma síntese curiosa de aristotelismo e platonismo com paganismo. A primeira é a forma pura em Ato e origem das demais: Poseidon, princípio masculino. Em seguida, gerada por Zeus à imagem de Poseidon, surge Hera, a qual representa a Potência e o princípio feminino. Em seguida, temos: Apolo, a Identidade; Ártemis, a Diversidade; Hefesto, o Repouso; e Dinioso-Atena o Movimento. E os demais, são deuses gerados a partir destas Ideias-deuses, relacionados com outros níveis em que o mundo é dividido de forma hierárquica.

Em Sohravardî as Ideias platônicas são relacionadas com a angeologia zoroastriana enquanto em Plethon com os deuses olímpicos, eis uma curiosa “divinização” das Ideias, unindo filosofia e teologia, e não muito distante, possivelmente, do que já fora feito antes pelos neoplatônicos antigos.







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que é o Vedanta? (por Daniel Placido -versão corrigida)

Manifesto para uma educação integral

Sobre Aristóteles, Deus e a teologia (por Daniel Placido)