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Mostrando postagens de janeiro, 2023

A “Cadeia de Ouro” e o platonismo (por Daniel R. Placido)

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                A expressão cad eia de ouro , dentro de um contexto platônico, costuma ser associada a três sentidos, que, amiúde, podem ser combinados entre si: a) a ordem universal e sua manutenção; b) a conexão entre os diferentes níveis de realidade (=cadeia do Ser); c) a corrente de transmissão do platonismo.             A expressão “cadeia de ouro” (ou cadeia áurea) tem sua origem em Homero, no Canto VIII da Ilíada , onde Zeus discursa sobre seu poder incomensurável: Por esse modo há de ver quanto sou, mais que todos, potente./ Caso queirais pôr à prova o que digo, será proveitoso:/por uma ponta amarrai no Céu vasto áurea e grande cadeia,/e, da outra ponta, reunidos, ó deuses e deusas, forçai-a./Por mais esforço que nisso apliqueis, impossível a todos/vos há de se arrastar a Zeus grande, o senhor inconteste./Mas se, ao contrário, eu quiser, seriamente, puxar para cima,/a própria terra e o mar vasto, convosco trarei desde de baixo./Mais: ser-me-á fácil no pico mais alto do Ol

Gnosticismo, Sexualidade e Mística (por Daniel R. Placido)

(*Publicado na revista 777) Gnosticismo foi o nome dado tardiamente a um conjunto de correntes esotéricas, a maioria de matiz cristã, que floresceram aproximadamente entre os séculos II a V EC, sobretudo sob a esfera cultural helenística. Através de ritos iniciáticos, ele prometia ao adepto a realização espiritual pela gnose, considerada um conhecimento interior, transformador e soteriológico.  Apesar de falarmos do gnosticismo no singular, não existiu uma unidade tampouco uma centralidade institucional entre os diversos grupos gnósticos. Entre eles, inclusive, circulavam diversos textos filosófico-esotéricos como o Evangelho de Filipe, o Evangelho de Maria Madalena, o Evangelho de Tomé, Pistis Sophia, Apócrifo de João, entre muitos outros.  Não demorou muito para o gnosticismo ser considerado heterodoxo pela corrente protocatólica nascente dentro da Igreja, tendo sido excluído paulatinamente de suas fileiras, junto com seus textos e suas concepções filosófico-religiosas. Não obstant

Documentário sobre Henry Corbin (resenha)

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Berdiaev, mística ocidental e mística indiana (por Daniel Placido)

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 Em um texto de 1912, "De Las distintas místicas", o grande filósofo russo Nikolai Berdiaev aponta uma convergência interessante entre Plotino e a mística indiana, algo que muitos estudiosos têm feito nestes últimos anos. Porém, infelizmente, ele comete simplificações terríveis também. Ele afirma que a "mística indiana" (parece estar pensando no Yoga ou no Vedanta) nega o homem concreto, o eu e o mundo plural, até mesmo rejeita o Deus pessoal, pois se move em um âmbito apofático, pré-teológico. Depois afirma que, no Ocidente, Plotino seria o caso mais próximo dessa visão indiana, impessoal e transmudana, e que aspectos da concepção neoplatônica apofática penetraram na mística cristã (Eckhart), apesar dessa preservar a realidade do mundo, do indivíduo e a pessoalidade divina, ocorrendo aqui uma cisão entre a mística cristã e a mística neoplatônica ocidental/mística indiana.  Duas observações breves que gostaria de fazer: 1- Não existe uma única "mística indiana&

Meu livro "Theosophia Perennis"

  “Nestes artigos, ensaios e exposições, o autor Daniel Placido guiará o leitor por um passeio através de assuntos como mito, imaginário, Santo Graal, sufismo, gnosticismo, neoplatonismo, teosofia, prisca theologia, Vedanta, filosofia da natureza, esoterologia, antroposofia, Nova Era, acompanhados por expoentes ocidentais e orientais clássicos da sabedoria perene como Fílon, Plotino, Shankara, Sohravardî, Ibn ‘Arabî, Marsílio Ficino, Jacob Boehme, Emanuel Swedenborg, William Blake, Ramana Maharshi, sem falar de pensadores mais contemporâneos como N. Berdiaev, Henry Corbin, M. Eliade, F. G. Bazán, entre outros. Subjacente à diversidade de temas e autores, existe a concepção de Theosophia Perennis (Teosofia Perene): uma sabedoria divina pertinente às diferentes tradições filosófico-esotéricas do Ocidente e do Oriente, sem negar a pluralidade e dissonância dentro dela, como uma árvore cheia de galhos e ramificações."   Theosophia Perennis: escritos para uma filosofia teosófica