Berdiaev, mística ocidental e mística indiana (por Daniel Placido)

 Em um texto de 1912, "De Las distintas místicas", o grande filósofo russo Nikolai Berdiaev aponta uma convergência interessante entre Plotino e a mística indiana, algo que muitos estudiosos têm feito nestes últimos anos. Porém, infelizmente, ele comete simplificações terríveis também.

Ele afirma que a "mística indiana" (parece estar pensando no Yoga ou no Vedanta) nega o homem concreto, o eu e o mundo plural, até mesmo rejeita o Deus pessoal, pois se move em um âmbito apofático, pré-teológico. Depois afirma que, no Ocidente, Plotino seria o caso mais próximo dessa visão indiana, impessoal e transmudana, e que aspectos da concepção neoplatônica apofática penetraram na mística cristã (Eckhart), apesar dessa preservar a realidade do mundo, do indivíduo e a pessoalidade divina, ocorrendo aqui uma cisão entre a mística cristã e a mística neoplatônica ocidental/mística indiana. 



Duas observações breves que gostaria de fazer:

1- Não existe uma única "mística indiana", mas uma pluralidade de visões e interpretações que se completam sem se reduzirem entre si. Até mesmo dentro de uma única "escola" como o Vedanta existem leituras diferentes, não seria possível dizer, por exemplo, que Ramanuja ou Madhva negam a realidade concreta da alma individual e do mundo, ou negam o aspecto pessoal de Deus.

2- Conforme Bazan afirma, a união da alma com o Uno em Plotino não pode ser interpretada como uma mera dissolução do sujeito no Todo Divino, pois esse processo de união não era definitivo.


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