Poetas platônicos II: S. T. Coleridge (por Daniel Placido)

Samuel Taylor Coleridge (1772-1834) foi, além de um grande poeta romântico e parceiro de Wordsworth, um filósofo de considerável estatura. 

Estudou não só a obra de místicos como Boehme e Bruno, mas as árduas filosofias de Kant e Schelling no original alemão, fazendo, assim, uma ponte entre o idealismo alemão e o Romantismo inglês.

A influência de Schelling (e Boehme) sobre Coleridge chegou a lhe valer a acusação desgostosa de "plágio", que porém se devia mais a desorganização psicológica deste último em sua escrita e memória do que a qualquer desonestidade intelectual. Ele esclarece a questão:

" .. Schelling confessou há pouco...a mesma referência afetuosa pelos labores de Böhmen, e de outros místicos, que eu já nutria há muito tempo...A coincidência do sistema de Schelling com certas idéias gerais de Böhmen foi mesmo, segundo ele, mera coincidência, enquanto os meus débitos foram mais diretos.(Biografia literária, IX, Trad. Paulo Vizioli)



Coleridge leu Platão e os platônicos antigos e renascentistas provavelmente ainda adolescente, sobretudo através das traduções de Thomas Taylor, conforme Ronald C. Weidling (1). E continuaria a ler sobre Platão e o platonismo na maturidade, especialmente a partir de 1796, até o fim da vida.

Ainda segundo Ronald C. Wendling (Ibidem), Coleridge concordava com a ênfase de Platão na existência de um mundo mental interior, mas, influenciado pelo empirismo da época, via nisso também o risco do sujeito permanecer alheio ao mundo externo. Coleridge receava a tendência ao utopismo em Platão e, no final da vida, irá preferir a visão de Cristo como Verbo encarnado na história ao platonismo demasiado transcendente (Ibidem).

De todo modo, pode ser considerado um platônico e, inclusive, conforme James Vigus, teve intuições originais a respeito da interpretação da tradição platônica:

 "...A importância da distinção que... Coleridge traça entre as doutrinas esotéricas e exotéricas de Platão reside no fato de que isso reflete a própria prática de Coleridge...Coleridge, portanto, especulou sobre a possibilidade de reconstruir o "sistema" esotérico analisando os relatos dos alunos de Platão. No entanto...ele dá a entender que não é tanto por meio de reconstruções técnicas quanto por meio da arte imaginativa, afinal, que o esotérico platônico pode ser vislumbrado. O esotérico, em vez de uma rede sistemática de proposições, designa uma ascensão à contemplação ativa das Ideias, estimuladas e expressas pelo sublime na música, na pintura e na poesia..."(Platonic Coleridge, pp. 478-479)


Notas

(1)Conferir: https://www.friendsofcoleridge.com/membersonly/WendlingPlato.html,


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