ABC do conceito de Gnose em Henry Corbin (por Daniel Placido)

 O conceito de gnose tem grande relevância na obra do filósofo e orientalista francês Henry Corbin (1903-1978), que, além de especialista na gnose islâmica (especialmente a xiita), dialogou, no Círculo de Eranos e alhures, com autores que conheciam o assunto a fundo, como C. Jung, M. Eliade, G. Durand, G. Scholem, G. Quispel, entre outros.

Podemos introduzir o leitor ao conceito de gnose em Henry Corbin a partir de cinco pontos básicos:

 1- A gnose é um conhecimento interior, um saber sobre si mesmo imediato que transforma o sujeito, implicando em um renascimento. Ao mesmo tempo, esse conhecimento é capaz de salvá-lo. Esse processo interno pode ser descrito, em linguagem maniqueísta, pelo encontro com o duplo angélico, com o gêmeo celeste ou com a Virgem de Luz. Essa gnose não é um mero saber teórico ou filosófico, é diferente da fé mas não exclui, antes a incorpora.

2- Existem várias formas de gnose (cristã, judaica, islâmica, budista etc.) manifestas na história religiosa, sendo o gnosticismo (coincidindo em parte com a gnose cristã) uma delas, mas não a única.



3- O que todas essas diferentes formas de gnose têm em comum? O reconhecimento da condição de exílio do homem, como um estrangeiro lançado neste mundo, um prisioneiro que deve se libertar e retornar para sua pátria espiritual, justamente sendo a gnose este meio de salvação capaz de levar o gnóstico para sua origem.

4- Ocidente e Oriente não têm um mero sentido espacial ou geográfico, e sim uma dimensão metafísica. O Ocidente representa o lugar do exílio da alma humana, ou seja, o mundo material, enquanto o Oriente representa o mundo espiritual, para o qual o gnóstico dirige-se, despertando dentro de si a luz espiritual; daí relatos míticos como o Hino da Pérola atribuído a Bardesanes, a Demanda do Santo Graal ou os relatos místicos de Avicena e Sohravardî, que falam de uma viagem simbólica pelo mundo oriental. Entre Ocidente e Oriente situa-se o Oriente médio, o mundo da alma de visões e revelações pelo qual o gnóstico passa em sua ascensão espiritual, ou seja, o mundo imaginal.

 5- A gnose não é uma forma de niilismo cosmológico, pelo contrário, o gnóstico quer salvar não apenas a si mesmo, mas todo o cosmo, e levá-lo consigo de volta à plenitude originária que existia antes de uma crise de proporções metafísicas. Não por acaso o maniqueísmo era uma religião gnóstica de beleza, pois enxergava na natureza material reflexos da luz espiritual imanente.

 

Textos e obras de Henry Corbin consultadas: Extracto de El elemento dramático de las cosmogonías gnósticas; Avicena y el relato visionário; L’ Imâm cachè; Encuentro com él ángel; Eyes of Flesh and Eyes of Fire Science and Gnosis; El Hombre de Luz y Su Guia.

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