Em memória de António de Macedo (por Daniel Placido)
António de Macedo nasceu no dia 5 de julho de 1931, em Lisboa, Portugal, e faleceu na mesma cidade em 5 de outubro de 2017. Ele foi cineasta, esteta, ensaísta, romancista, professor de Esoterologia Bíblica (Universidade Nova de Lisboa), além de membro da Fraternidade Rosacruz Max Heindel. Em todas essas áreas e especialidades conquistou destaque, obtendo por seu trabalho um reconhecimento internacional. Aqui falaremos apenas da sua faceta enquanto estudioso das religiões e tradições.
Por “estudo do Esoterismo” (=Esoterologia), hoje se entende a disciplina acadêmica surgida há alguns decênios em universidades importantes tais como Sorbonne (França), Estadual de Michigan (EUA), Amsterdam (Holanda), Londres (Inglaterra), Turim (Itália) e outras, à luz de uma reaproximação entre o mundo dos esoteristas, de um lado, e o mundo acadêmico, do outro, o que não ocorria praticamente desde Ficino e o Renascimento. Reaproximação esta fundada em sutis distinções metodológicas e epistemológicas, possíveis após o declínio de um certo positivismo epistêmico.
Dentro deste quadro esboçado, A. de Macedo se destacou como especialista/professor de uma sub-disciplina, baseada numa abordagem transdisciplinar combinando hermenêutica, filologia, teodicéia e sociologia da religião: a Esoterologia Bíblica, ou seja, “estudo do Esoterismo da Bíblia”. Esoterismo na Bíblia?! Diante de possíveis objeções vindas de outros estudiosos bíblicos, ou mesmo autoridades religiosas, A. de Macedo trata de esclarecer: “Que os próprios textos da Bíblia contêm material esotérico, é um dado observacional indiscutível, além do facto, também indiscutível, de terem sido objeto de interpretações esotéricas, quer por parte da tradição judaica, quer da tradição cristã desde os seus primórdios” (In: “O Esoterismo da Bíblia”. Lisboa: Ésquilo, 2002, p.19).
Além de pesquisador acadêmico, António de Macedo foi membro da Fraternidade Rosacruz, fundada no início do séc. XX, nos EUA, pelo místico dinamarquês Carl Louis Von Grasshof que, ao emigrar para a América, adotou o pseudônimo de Max Heindel. Assim, António de Macedo pode ser inserido, merecidamente, numa linhagem de pensadores fecundos e versáteis engendrados por este movimento, a título de exemplo, Manly P. Hall e Corinne Heline.
Os livros e artigos de António de Macedo revolvem muitos temas, como a tradição rosacruz, herdeira do hermetismo e da alquimia, ou, como o paleocristianismo, por sua vez tributário das tradições judaica e helênica. Ele demonstrou conhecer os fundamentos do Esoterismo do Ocidente, ao transitar de modo livre pelas vários autores, escolas e correntes, de antanho e de hoje. Além do mais, foi-lhe possível ainda falar de problemas intrínsecos da história oculta de Portugal, da questão premente da iniciação feminina e do feminino universal, ou filosofar sobre as relações entre estética, ética e gnose.
Dito isso tudo, gostaríamos de registrar que António de Macedo foi um verdadeiro humanista, preocupado com os rumos políticos e éticos da sociedade atual, e um homem sábio, capaz de dialogar de coração aberto com todos que estivessem dispostos, acadêmicos ou não, sejam os leitores de Dan Brown, seja um rapaz curioso e anônimo de aquém-mar interessado em aprender sobre Esoterismo.
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