Zoroastro e o zoroastrismo (por Daniel Placido)

 

Quem foi Zoroastro? E o que é o Zoroastrismo?

Zaratustra (conhecido em grego como Zoroastro) foi um sacerdote e reformador religioso do antigo Irã, que teria vivido entre 1500 e 1200 AEC, embora algumas estimativas o situem entre 1000 e 600 AEC.

Segundo a tradição, enquanto se banhava em um rio, Zoroastro teve uma visão de uma entidade angélica que se apresentou como emissária de Ahura Mazda, o Senhor Supremo. Essa entidade o levou à presença do Ser Supremo, que lhe revelou a verdade, marcando o início de sua missão profética.

O zoroastrismo (às vezes chamado de mazdeísmo) é uma religião que combina elementos do monoteísmo com um dualismo teológico. Ahura Mazda (também chamado de Ohrmazd) é o Senhor Supremo e Sábio, criador da distinção primordial entre asha (verdade, ordem cósmica) e druj (mentira, caos). Dele teriam nascido dois espíritos gêmeos, cada um fazendo uma escolha: Spenta Mainyu (Espírito Benfazejo) optou pelos bons pensamentos, boas palavras e boas ações; e Angra Mainyu (Espírito Negador, também conhecido como Ahriman) escolheu os maus pensamentos, palavras e atos.

Entre Ahura Mazda e a humanidade estão os yazatas (anjos), também chamados de Amesha Spenta (“Imortais Benfazejos”), que personificam tanto atributos divinos quanto qualidades humanas ideais e elementos da criação: Vohu Manah, bom pensamento; Asha Vahishta, verdade suprema; Khshathra Vairya, domínio desejável; Spenta Armaiti, devoção benfazeja; Haurvatat, plenitude; e Ameretat, imortalidade.

O zoroastrismo apresenta o universo como um duelo cósmico e ético entre as forças do bem e do mal, batalha essa que também se reflete no interior de cada ser humano. Ao final dos tempos, o bem triunfará de forma definitiva.

Com raízes comuns à religião da Índia védica, o zoroastrismo partilha com esta última do legado indo-europeu. Desenvolveu-se entre os séculos VII AEC e VIII EC, até a conquista islâmica da Pérsia. Seus rituais incluem cerimônias de purificação semelhantes ao batismo, a veneração do fogo (considerado sagrado) e festividades como o Nowruz (Ano Novo Persa). Seu texto mais importante é o Zend-Avesta, e seus sacerdotes ficaram conhecidos como magos ou athravans.

 

Influência de Zoroastro

Na Grécia antiga, Zoroastro e o zoroastrismo foram frequentemente associados à filosofia helênica. Histórias antigas vinculavam Platão aos magos e consideravam Zoroastro o mestre de Pitágoras.

Em Roma, surgiu um culto de mistérios dedicado a Mitra, uma divindade solar que tem raízes no zoroastrismo. E filósofos neoplatônicos chegaram a mencionar a existência de vários Zoroastros ao longo do tempo.

Durante o Renascimento europeu, pensadores como Plethon e Marsilio Ficino reverenciaram Zoroastro como um sábio e teólogo da Antiguidade. E já na modernidade, Nietzsche escolheu Zaratustra como o personagem central de sua obra “Assim Falou Zaratustra”, representando o ideal do além-do-homem.

Zoroastro, detalhe da obra Escola de Atenas, de Rafael, 1509.

No Oriente, é mencionado no Evangelho de Mateus que os “magos do Oriente”, ou seja, sacerdotes zoroastrianos, visitaram o menino Jesus, guiados por uma estrela.

O zoroastrismo influenciou ainda o maniqueísmo, surgido no século III EC., ao ser integrado com elementos do cristianismo gnóstico e do budismo.

E, por fim, no mundo islâmico, ressurgiu no século XII por meio da síntese filosófico-mística de Sohravardî, que uniu zoroastrismo, sufismo, hermetismo e neoplatonismo.

 

Bibliografia consultada

BOULHOSA, Tatiana Machado. Politeísmo. São Paulo: Lafonte, 2021.

ELIADE, Mircea, COULIANO, Ioan P. Dicionário das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FILORAMO, Giovanni. Monoteísmos e dualismos: as religiões de salvação. São Paulo: Hedra, 2005.

TATSCH, Flavia Galli. “Persas”, In: As religiões que o mundo esqueceu, Pedro Paulo Funari (org.). São Paulo: Contexto, 2012, p. 103-115

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